Nos
idos da década de 70, uma nova cena começava a se formar na Inglaterra,
conduzida por descendentes jamaicanos em Londres, o lovers rock
internacionalizou o som caribenho e buscou influência no rocksteady, ritmo que
sucedeu o ska e moldou o reggae. Foi, também, um importante meio de expressão
destes imigrantes que não se encaixavam no que vinha sendo produzido
musicalmente na terra da rainha. Uma das coisas mais interessantes da
cena, era a presença feminina em maior escala entre os seus intérpretes, além
do movimento ter partido inicialmente das sound systems londrinos. A batida
lenta, os vocais suaves e as letras românticas eram as principais
características do ritmo que, até hoje, possui uma cena sólida e organizada.
Artistas
como Dandy Livingstone, Desmond Dekker, Alton Ellis e Laurel Aitken, antes
estourados nas charts britânicas, perdiam espaço para o progressivo e glam rock. Ainda assim, a música
jamaicana conservava sua fanbase, mesmo orfãos e insatisfeitos com o que vinha
sendo produzido pela ex colônia. Isto, sem falar da vasta população
caribenha residente nos bairros periféricos, principalmente no sul londrino.
Como se entrosar num cenário como esse? Com a venda de discos diminuindo
e a produção caindo para um lado que não descia nem para os ingleses, nem para
os jamaicanos, as festas de rua se tornaram o principal divertimento e um meio
de vida.
Abastecidos
pelas soundsystem Chicken Hi-Fi, Success Sound e Soferno B-que também se
tornaria label-, o velho reggae, rocksteady, ska e o soul voltavam a ter seu
espaço e faziam enorme sucesso. Com este panorama, era inevitável o surgimento
de artistas produzindo material próprio. Inspirados pelas letras românticas e
arranjadas do soul da Filadélfia e Chicago e as belas melodias do rocksteady, o
lovers rock aparecia. Até determinado momento, esse novo ritmo não tinha este
nome, a nomenclatura surgiria pouco tempo depois, graças ao produtor Dennis
Harris, peça importantíssima na cena e criador do selo Lovers Rock. Graças a
ele, várias estrelas de lovers começavam a surgir: o trio Brown Sugar-com Carol
Wheeler do Soul II Soul-, Carrol Thompson e a belíssima Louisa Mark, que chegou
inclusive a gravar um single pela Trojan, já na década de 80.
Daí
para frente, o lovers rock começou a ganhar seu espaço. Sabendo deste
público, alguns artistas jamaicanos que na época haviam seguido para o roots
reggae, perceberam no lovers um outro público que merecia atenção. De Pat Kelly
e Alton Ellis, a Gregory Isaacs e Sugar Minott, a lista de intérpretes
que começavam a gravar o ritmo cresceu. O mais interessante disso é que, na
Jamaica, a novidade nunca pegou de fato. Não existem razões concretas a
respeito, mas talvez a herança maldita do termo rock do parente rocksteady
tenha ajudado a não popularização. O rock sempre foi um ritmo que os jamaicanos
renegaram, dando sempre preferência ao soul. Alguns até hoje afirmam que o
rocksteady não estourou como o ska e o reggae graças a nomenclatura que
recebeu. Boato ou não, não deixa de ser curioso.
Com
o início da década de 80, novos artistas surgiam e colocavam de uma vez por
todas, o lovers rock como cena underground sólida na Inglaterra. Um dos
baluartes na divulgação foi um então jovem Mad Professor, com seu selo
Ariwa. No futuro se tornaria um dos maiores nomes do dub. Seus trabalhos com a
compatriota Deborahe Glasgow, lançados quando a cantora ainda era uma menina de
apenas 14 anos, são verdadeiras gemas. “Falling in
love” é soulful ao extremo, e talvez a track mais marcante do seu
período com Professor. Janet Kay nas charts britânicas com “Silly Games” em
79-, Paula e a lindíssima Marie Pierre com sua inesquecível “Choose Me”, fazem parte do extenso hall de belas intérpretes de lovers,
que também reservava espaço, mesmo que pequeno comparado as mulheres, a caras
como Winston Reedy e Peter Hunnigale.
O
lovers rock continua forte até hoje. É claro, não tem a mesma força que tinha
há vinte anos, mas continua como uma das cenas mais interessantes para se
conhecer e fazer parte. Segue com sua base focada nas sound sytems, o que
talvez tenha ajudado a garantir o sucesso. Seu legado também é enorme, foi um
dos responsáveis pelo surgimento do dubstep e grime. Sem o lovers, muitos
descendentes de caribenhos envolvidos nestes novos sons não teriam a inspiração
e a confiança que, é sim, possível continuar a belíssima história que seus avós
e bisavós começaram há 40, 50 anos atrás.
Fonte: http://www.coletivoaction.com
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